quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Ciganos em Ferreira




É sabido que não se inserem na comunidade.Têm os seus costumes enraizados na diáspora que é o nomadismo.Há quem os defenda, há que quem os acuse.São tema de muitas conversas, nomeadamente quando falamos de criminalidade ou quando falamos de "preguiça laboral".Tocam e cantam como ninguém e segundo parece têm os tachos da cozinha a brilhar como novos.São sem dúvida um povo particular.Contudo, não me cabe a mim criar juízos de valor sobre este povo, o povo cigano.

Ao que parece aqui na região de Beja os ciganos mantêm a tradição nómada.Deambulam com os seus cavalos e carroças, acompanhados por vezes das suas conhecidas carrinhas Iveco. Acampam onde têm espaço e vão ficando por um par de dias neste ou naquele terreno baldio.Aqui em Ferreira é normal vê-los passar com as suas carroças.Dão de beber aos cavalos no chafariz ou então vão para a barragem de Odivelas.Fazem fogueiras para se aquecer e para cozinhar.Um ponto negativo que não os favorece é o imenso lixo que fazem e que depois não o limpam.

No dia de ontem, enquanto estava a acompanhar uma das muitas máquinas a abrir vala para regadio, vi uma coisa que me surpreendeu.Apesar dos processos mecânicos serem cada vez mais usuais na agricultura, nomeadamente na pequena agricultura, a apanha da azeitona, pelo menos naquele terreno, estava a ser realizada manualmente por famílias ciganas.Qualquer outra pessoa que não fosse desta região diria que "lá estão os ciganos a roubar". Mas não.Pegaram pelas 7h da manhã e às 14h, depois de ter ido almoçar, ainda lá estavam.Cerca das 16/17h, creio eu, foi quando os vi pela última vez.Com varas em madeira e uma rede lá iam batendo nas oliveiras como se sempre fez antes da introdução das máquinas na agricultura.Bem organizados, todos sabiam bem o que fazer.Aqui não existe diferença entre o homem e a mulher.Todos trabalham igual, excepto subir às árvores que foi sempre o mesmo moço, talvez por ser ainda jovem e ágil.

Falei com um dos ciganos.Sempre amável lá foi dizendo algumas coisas, aproveitando para descansar das imensas horas de braços ao alto com uma vara de quase 6 metros.Visivelmente cansado não desistiu e lá continuou.Ainda esbocei umas palavras para o pequeno que trazia com ele, possivelmente filho, contudo sem grande sucesso, pois o "espanholês" não era muito perceptível.Perceptível era a felicidade daquele míudo quando apanhava uma azeitona e a escondia na manga...

Tentei perceber quanto recebiam de salário mas sem grande sucesso.O senhor apenas me disse: "Já tenho o dia feito...Já apanhámos 17 sacos de azeitona".Na apanha da azeitona, para além do suposto salário de uns meros tostões à hora, existem dois tipos de "contrato". O primeiro é a divisão da azeitona, fifty-fifty, metade para o dono da terra, metade para o trabalhador (equipa).O segundo é a terça, ou seja, 1 terço para o dono da terra, dois terços para o trabalhador (equipa).

Depois de uma breve investigação é normal aqui para baixo serem os ciganos a apanhar a azeitona manualmente, sem a intervenção de qualquer máquina.Existem cada vez menos portugueses a realizar esta árdua tarefa...

Afinal os ciganos também "podem" trabalhar ... e pelo que vi até trabalham bastante bem.

2 comentários:

  1. Bela informação e bom relato etnográfico. Gosto muito de ler os teus textos que falam da relação do ser humano com a terra.
    Grandabraço
    Luís

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  2. Amigo Luís obrigado pelo comentário...

    Forte abraço

    Bzzzzzzzzz

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